Sobre Leslie Markus
Em seu primeiro livro, fotógrafa reúne 43 imagens e transforma o cotidiano em uma elegia sobre memória e afetividade
O quanto a realidade está sujeita às transformações do olhar? Documentar seria apenas testemunho ou também porta para o subjetivo, para a interpretação? Essas são algumas das proposições e questionamentos que o livro Awakening, da fotógrafa Leslie Markus, apresenta ao longo de 104 páginas, com 43 registros em preto e branco tirados de um acervo acumulados ao longo de sete anos de “flagras” dos filhos – no banho, dormindo, brincando ou fazendo nada, simplesmente existindo.
O material, no entanto, extrapola a “afetividade materna”. Awakening (Olhavê, 2017) não emociona porque mostra crianças, ele nos toca porque fala de momentos que o coração imprime, nos dizendo que tudo um dia se transformará em lembranças. “O que mais me chamou a atenção no trabalho da Leslie é que eu identifiquei ali uma tremenda fotógrafa”, diz o fotógrafo e editor Alexandre Belém, sócio da Olhavê e responsável pela escolha das imagens, ao lado da mulher e sócia Georgia Quintas. “Ser uma mãe fotografando os filhos não foi o que me pegou. Isso é corriqueiro”, diz.
A relação com a fotografia não é recente. Leslie foi umas fundadoras da Compota Edições Limitadas (que comercializa fotografias autorais) e acumulou uma experiência de mais de 15 anos agenciando e produzindo trabalhos para fotógrafos de peso – entre eles, Daniel Klajmic, Christian Gaul, Feco Hamburger, Rui Mendes Luis Crispino e Pedro Martinelli. Além de sempre fotografar enquanto ninguém notava. Mostrar o lado autoral, no entanto, é novidade.
Editora Olhavê
" O fotolivro Awakening, da fotógrafa Leslie Markus, transita pela fotografia documental com leveza e discrição. Documentar é provar, confirmar ou testemunhar algo, um fato. O documentar de Awakening é subjetivo, nas entrelinhas. Sem provas mas com proposições e questionamentos.
A rotina temporal de três irmãos é diluída. Um amálgama se forma. Intimidade, cotidiano, relações e tensões do entorno familiar são registrados com delicadeza e cuidado. "
Awakening suplanta o álbum de família que data e fecha um período. Mais do que isso, o ensaio é aberto para interpretações e vislumbres sobre o caminho dos protagonistas da narrativa.
Por Caito Ortiz
A minha mulher não era fotógrafa. Pelo menos era o que ela dizia para todo mundo. A família dela tinha certeza que ela era fotógrafa, era engraçado. Acho que a confusão era porque ela sempre trabalhou com fotógrafos, foi por muitos anos agente deles, então acho que eles achavam isso porque é mais fácil pensar que a pessoa é fotógrafa do que agente.
O que define se uma pessoa é fotógrafa ou não? Eu acho que para uma pessoa ser fotógrafa ela precisa tirar boas fotos. A minha mulher nunca tirava fotos, então ela não era fotógrafa. Mas um dia apareceu uma novidade que mudou completamente o mundo dela. Ela comprou um iPhone. Esse iPhone tinha uma camera, e ela começou a fotografar. De repente ela achou uma voz, uma maneira de emoldurar o mundo dela, e de repente as fotos dela eram as fotos mais legais. Foi como um renascimento, ela renasceu fotógrafa.
Minha mulher fotografa o nosso cotidiano. Eu acho a fotografia do cotidiano a mais difícil. Fácil é viajar pro Japão e voltar com uma exposição, mas o cotidiano pede constancia, pede sensibilidade a flor da pele, pede coração aberto para os pequenos milagres. Ela é capaz de traduzir a felicidade nas fotos dela, e isso não é pouco.
Esse livro é isso, o cotidiano dela, meu amor, a melhor fotógrafa que eu conheço.
Agradecimentos Especiais
Este projeto não seria possível sem a ajuda de tantos amigos queridos que me apoiaram e me incentivaram nesta jornada. Vocês me deram força e coragem. Amo vocês.
Ao meus editores, Alexandre e Georgia. Um poço de sensibilidade, pessoas apaixonadas pelo seu ofício, um processo harmonioso, fluído e respeitoso. Que sortuda que eu sou.
Aos meus filhos e meu companheiro de tantas vidas, vocês são minha luz.
- Leslie Markus